Temos de nos capacitar que fizémos o que pudémos. Vivemos o que nos foi destinado.
Por a ferida ser tão funda... andamos a magoar-nos mutuamente na esperança de assim alcançarmos a cura. Nunca alguém se curou por infligir mais dor. Rasgar mais o corte.
Temo ir-me de repente e deixar de mim, em ti, somente equimoses e uma hemorragias sem estanque. Por lhe sentir falta. Por ter tanta saudade!
Quando a saudade não é só a falta que nos fazem, o lugar vazio que deixaram e do qual não conseguimos desviar o olhar. A saudade é o ritual mórbido de autoflagelação pessoal, que passamos a praticar diariamente ao segundo, ufanos da nossa condição miserável.
Tenho de deixar-te mais do que sou e do que não deixei que fosses, por te querer tanto e desejar-te o melhor. Tenho de permanecer na tua lembrança sem que a saudade que sintas te fira, ou faça ferir alguém. Tenho sobre tudo, de te permitir que encares o meu lugar vazio, tranquila e de bem com ambas. Sem necessidade alguma de aderires aos rituais doloridos, que praticamos.
Basicamente porque a consciência nos trai e apenas mostra o pior, alimentando-se de todas as culpas que sentimos, sonegando-nos os momentos bons.
Exactamente porque sabe que se o não fizer, a partida de alguém... a falta... aquele lugar vazio... se sentirá com nostalgia e o afecto inerentes. Mas sem dramas.
"Saudades não se resolvem, mas o desespero não honra quem partiu".
Augusto Cury